A Arte e a Escrita Resgatando a Criatividade e a Auto-Estima no Processo de Inclusão Digital de Alunos sem Acesso a Computadores em suas Escolas

Autores: Marisa Lucena[1], Ana Tereza Reiniger Olivero, Cristiane Cardia Amato, Maria Alice Antunes Cárdia, Maria Paula Cavalcanti, Vânia Moreira[2], Lucia Chibante e Miriam Lerner[3] -mwlucena@kidlink.fplf.org.br

Resumo:

O Projeto KHouse Br proporciona, sem ônus, o uso da Internet e uma Educação à Distância informal a professores e alunos de escolas públicas e à população infantil em geral que não tem acesso a computadores. É, desse modo, uma "casa" de portas abertas que utiliza uma metodologia própria para a inclusão digital de seus alunos.

Na KHouse PUC-Rio a aprendizagem e a prática adquiridas através de projetos educacionais cooperativos e de programas computacionais gráficos são os pilares para a descoberta e o desenvolvimento de novas potencialidades, autoconhecimento e auto-realização.

O objetivo do projeto é usar a tecnologia educacional em atividades que transformem cada indivíduo em um cidadão apto e consciente de seu papel na atual Sociedade da Informação. Uma das estratégias usadas é unir Arte e Linguagem Escrita em atividades educacionais.

Palavras Chave: Interdisciplinariedade, Inclusão Digital, Projetos Cooperativos, EAD, Internet.

Introdução

Arte, Tecnologia e Educação

O objetivo do projeto não é a mera instrumentalização do sujeito, ou seja, não é “aprender computador”! O importante é o “aprender fazendo”. É usar a tecnologia em atividades artísticas e educacionais que transformem cada indivíduo em um cidadão apto e consciente de seu papel na atual Sociedade da Informação.

No método de trabalho utilizado, a aprendizagem e a prática adquiridas através de atividades artísticas em programas gráficos computacionais, como Paint Brush, Power Point, Crayolla e outros, são os pilares para a descoberta e o desenvolvimento de novas potencialidades, autoconhecimento e auto-realização do público alvo.

Contextualização do Problema

No decorrer das atividades computacionais planejadas para atingir o objetivo acima descrito, há espaço para que as crianças se expressem através de manifestações artísticas que também estimulem uma escrita de melhor qualidade. A participação em projetos com esse perfil interdisciplinar deixam brotar espontaneamente suas raízes, seus mais profundos sentimentos, despojados de bloqueios e de estigmas, tais como, a inferiorização de sua realidade sócio-econômica.

Os sujeitos centrais dos exemplos apresentados nesse artigo são crianças na faixa etária entre 10 e 12 anos que freqüentam, duas vezes por semana, durante duas horas, sem ônus, os laboratórios de computação da universidade PUC-Rio. O Projeto KHouse é um dos principais projetos sociais reconhecidos pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).

Esses alunos da KHouse Kids PUC-Rio estudam na Escola Municipal Luis Delfino, são provenientes de uma classe social menos favorecida e, em sua grande maioria, moram na Rocinha, uma favela incrustada em um morro voltado para uma das mais ricas regiões da zona sul do Rio de Janeiro: o bairro de São Conrado. Seus familiares, em geral, realizam trabalhos domésticos (i.e. porteiros, motoristas, faxineiros, cozinheiros, etc.) em casas e apartamentos de pessoas com alto poder aquisitivo ou de classe média-alta, vizinhos da favela.

Este contraste sócio-cultural é observado através dos desenhos, poesias e textos, deixando fluir a crença num futuro digno e bem melhor. O computador é visto como uma máquina importante e, por vezes, “salvadora” que, se bem usada, é capaz de proporcionar oportunidades para derrubar muitos paradigmas existentes. A freqüência às aulas na PUC-Rio é considerada o início de um longo caminho a percorrer. Isso não assusta, ao contrário, estimula.
 

A qualidade dos trabalhos e os resultados obtidos homologam muitas premissas e, em um processo construtivista, são estabelecidas - e várias vezes reformuladas - as diretrizes para o desenvolvimento dos métodos de trabalho do projeto.

Já existe uma certeza generalizada de que o uso bem estruturado e o domínio de novas tecnologias aliadas às Artes permitem a democratização da aprendizagem e são fatores centrais no processo de inclusão digital não só de crianças, como de jovens e de adultos.

Exemplo de atividades

Foram escolhidas três atividades para exemplificar as observações e afirmações acima apresentadas. Todo material produzido pode ser utilizado e consultado em um processo de colaboração para a Educação à Distância in http://wwwusers.rdc.puc-rio.br/kids/kidlink/khouse/index.html.

Eu Me Descrevo, Tu Me Desenhas

Essa atividade teve como objetivo o autoconhecimento e também “o que eu sou na percepção do outro”. Os alunos desenharam seus amigos baseados em autodescrições e utilizando o programa gráfico Paint Brush.

Meu nome é Davidson		Meu nome é Valmir
Eu sou menino e gosto de futebol, sou, gordo, alto e sou líder, simpático, eu sou bonito.		Eu sou menino, eu sou branquinho tenho olhos pretos cabelos lisos e pretos, sou médio, meio magro, bonito, meio forte.
Desenho feito por Maiara		Desenho feito por Monique

Homenagem às Mães
Escola Municipal Luiz Delfino – 3ª Série - 2003

Essa atividade teve como objetivo a homenagem ao Dia das Mães e resultou em uma exposição na escola.

Os alunos escolheram os cenários disponíveis no programa gráfico Story Book e redigiram suas próprias mensagens, expondo seus sentimentos, necessidades e sonhos.

Ilustração 2
Ilustração 3

Rocinha: Ontem e Hoje
Escola Municipal Luiz Delfino – 4ª Série - 2004

Essa atividade está em andamento, na fase de execução de uma pesquisa e tem a importância por estar sendo desenvolvido com a participação da professora de turma. Uma conquista!

O trabalho tem como objetivo construir uma linha do tempo com dados informativos, gráficos e fotos da comunidade da qual muitos dos alunos fazem parte: o bairro da Rocinha, no Rio de Janeiro, acima descrito.

O programa usado é o Power Point, um programa gráfico que permite a construção de slides que proporcionam a culminância de uma apresentação com desenhos e ícones animados.

Os alunos têm demonstrado muito interesse e estão totalmente motivados na descoberta das origens da comunidade que pertencem. Já foi observado e constatado uma surpreendente identificação e uma boa aceitação com relação ao contexto e à realidade de suas vidas. Demonstram, principalmente, o orgulho pelas inovações e desenvolvimentos ocorridos na comunidade, como por exemplo, os programas sociais, a Casa de Cultura, a chegada dos bancos, de escolas e até mesmo de uma quadra da Escola de Samba.

Considerações finais

O fundamento das atividades realizadas com computadores na KHouses Kid PUC-Rio conduzem aprendizagens formativas através de informações que levam à integração socializadora, à consciência de cidadania, e à inclusão participativa do uso do computador como nova tecnologia de comunicação.

A saúde mental das crianças é responsabilidade da família e dos educadores que têm, também, para si a parte do desenvolvimento cognitivo. Os resultados globais e positivos somente serão colhidos se houver atenção e interesse na busca de novas práticas educativas que incentivem a aprendizagem e a aquisição de hábitos e atitudes. É fundamental a orientação no exercício do espírito crítico e das meta-habilidades cognitivas que certas atividades artísticas proporcionam.

Profissionais que lidam no campo de Educação Tecnológica devem ter boa formação, profissionalismo e constante atualização. Devem sentir e perceber o momento exato de agir, e de como o agir é fundamental nesse contexto. Cada vez mais, os professores são peças fundamentais na formação de seus educandos e co-responsáveis com seus familiares por um desenvolvimento bem abrangente que envolve aspectos cognitivos, físicos, mentais e comportamentais.

Esse é o papel, essa é a atuação, essa é a postura que a equipe da KHouse Kids PUC-Rio tem ao entrar nos Laboratórios de Computação do RDC da PUC-Rio. A experiência dá a certeza de se estar lançando sementes em um campo até então árido que, aos poucos, tem se transformado e produzido resultados já reconhecidos pelos alunos, professores e pela comunidade acadêmica brasileira.

Exemplo de Bibliografia de Apoio ao Desenvolvimento das Atividades da KHouse PUC-Rio:

BARREIRA, M.C.R.N.; Avaliação participativa de programas sociais; Veras Editora, São Paulo, 2000.
BERGER, P. L..e LUCKMANN, T.;  A construção social de realidade. Petrópolis, Vozes, 1993.
CURY, T.C.H.; Elaboração de Projetos Sociais;Coletânea de textos Gestão de Projetos Sociais, 2000.

Notas:

OBS: Os textos publicados na Revista Art& só podem ser reproduzidos com autorização POR ESCRITO dos editores.